O TCE é rapidamente absorvido para a circulação sistémica, quer por via oral, inalatória ou cutânea. A sua principal via de metabolização ocorre por oxidação promovida pelas CYPs, ao nível hepático, embora uma pequena parte seja metabolizada pela conjugação com a glutationa. Na figura ao lado estão descritas as duas vias, sendo que a via oxidativa se encontra no lado esquerdo da imagem e a via da glutationa está representada no lado direito. Como se pode observar na imagem, o TCE pode ser oxidado para se obter um dos três metabolitos iniciais: o cloral, o TCE-epóxido e o cloreto de dicloroacetilo. Estes metabolitos rapidamente sofrem oxidação e /ou redução, originando tricloroacetato (TCA) e tricloroetanol (TCOH), os principais produtos finais da via oxidativa. Por sua vez, o TCOH ou é oxidado para TCA ou é glucuronizado. O TCOH glucuronido é excretado através da urina e da bile. Nesta última, ele pode voltar à circulação por via enteroepática por hidrolise no intestino, com reabsorção e possibilidade de conversão para TCA. O TCA acumula-se no corpo, devido à forte ligação às proteínas do plasma e excreção lenta. Em contraste, os níveis sanguíneos de dicloroacetato, formado por descloração do TCA, ou a partir TCOH, são muito baixos ou não detetáveis em humanos (9).
Toxicocinética do TCE
Antes de mais, é muito importante compreender a absorção, distribuição, metabolismo e eliminação do TCE, permitindo assim determinar qualitativamente e quantitativamente o risco para o homem associado à exposição ambiental ao tricloroetileno.
A absorção após a inalação é rápida e a dose absorvida é proporcional à concentração de exposição, à duração da exposição e à taxa de ventilação pulmonar. Da mesma forma, o TCE é rapidamente absorvido a partir do trato gastrointestinal para a circulação sistémica após a ingestão. A absorção oral do TCE parece ser influenciada pela dose e pelo conteúdo do estômago. Uma vez absorvido, é transportado primeiro para o fígado, onde é metabolizado para eventual eliminação. A absorção cutânea dá-se de uma forma rápida, quer através do contacto com o vapor ou com o TCE líquido (8).
Independentemente da via de exposição, o TCE é amplamente distribuído por todo o corpo, podendo ser detetato em muitos tecidos humanos, incluindo: cérebro, músculo, coração, tecidos de rim, pulmão, fígado e tecido adiposo. Ele também pode ser encontrado no sangue materno e fetal humano e no leite materno das mulheres lactantes (8).
A toxicidade associada ao TCE é atribuida, sobretudo, aos seus metabolitos e não tanto ao composto não metabolizado. Mesmo os seus efeitos depressores do Sistema Nervoso Central são devidos, em parte, às propriedades sedativas de alguns dos seus metabolitos, como o tricloroetanol e o clorofórmio. Por este motivo, a compreensão do metabolismo do TCE é um pré-requesito para que se possa elucidar os seus mecanismos de ação e avaliar com precisão os riscos humanos (9).
Quantidades relativamente pequenas de TCE podem ser conjugada no fígado com a glutationa para formar S- (1,2-diclorovinil) de glutationa (DCVG). A DCVG é então eliminada dos hepatócitos para o plasma e bile. A DCVG plasmática é convertida no rim a conjugado de S-cisteína (1,2-diclorovinil) -L- cisteína (DCVC), pelas γ-glutamil transferase e dipeptidases. A DCVG secretado na bile pode sofrer processamento extrarenal para DCVC, que é posteriormente entregue ao rim por via entero-hepática. Assim sendo, a produção da DCVC representa um ponto de ramificação na via: pode ser desintoxicada através de uma N-acetilação ou bioactivada a tióis reativos, pela β-liase, localizada nas células tubulares proximais renais. No entanto, pode também, em menor grau, ser bioactivada a DCVC sulfóxido, através da ação da flavina monooxigenase (FMO)) (9).
Imagem retirada de Casarett and Doull´s, "Toxicology, The Basic Science of Poisons", Curtis D. Klaassen, Ph.D., Seventh Edition, 2008, pag. 999.
Bibliografia:
8. EPA, disponível em: http://www.epa.gov/oppt/existingchemicals/pubs/TCE_OPPTWorkplanChemRA_FINAL_062414.pdf, acedido a 20/05/2015;
9. Casarett and Doull´s, "Toxicology, The Basic Science of Poisons", Curtis D. Klaassen, Ph.D., Seventh Edition, 2008, (997-1001).